Museu da Criação, em Kentucky (EUA), reafirma a literalidade do relato bíblico sobre as origens, mas atrai críticas da comunidade científica.
Cento e cinqüenta anos depois de Charles Darwin abalar as estruturas da cristandade com seu polêmico livro A origem das espécies, um museu especialmente dedicado ao criacionismo faz sucesso no Kentucky (EUA). É o Museu da Criação, que já atraiu mais de 600 mil visitantes desde sua inauguração, ano passado, e existe para provar – ao menos, assim desejam seus idealizadores – que o relato bíblico do livro do Gênesis, segundo o qual tudo que existe é obra das mãos de Deus, é cem por cento literal. Ali, o evolucionismo de Darwin é sistematicamente rejeitado, em meio a diversas a variadas atrações, como vídeos cheios de efeitos especiais, apresentações interativas, robôs animados, estátuas que parecem pessoas, um planetário e explicações muito bem detalhadas.
“Queremos mostrar uma caminhada histórica de acordo com a Bíblia”, define um dos fundadores da casa, Mark Looy, um criacionista de carteirinha. Ele explica que o museu, iniciativa da entidade Answers in Genesis, o AIG (Respostas no Gênesis), tenta rechaçar uma das principais críticas ao criacionismo, a de que a teoria carece de base científica. Parecendo um parque de diversões da Flórida, com 6,5 mil metros quadrados de área, o museu traz uma longa apresentação do surgimento do mundo, dos animais e dos seres humanos. O acervo conta a história de Adão e Eva, do fruto proibido, de Matusalém e da arca de Noé – esta última, do grande dilúvio, é usada para explicar a extinção dos dinossauros e a existência de fósseis. A principal tese usada pela instituição é de que criacionistas e evolucionistas partem das mesmas evidências para interpretar o passado, mas chegam a conclusões diferentes. ‘Raramente discordamos dos evolucionistas em relação às evidências; nossa separação está na interpretação. Queremos mostrar que a evidência científica leva ao criacionismo’, enfatiza Looy.
O surgimento do Museu da Criação marca um período de acirramento dos debates entre os dois grupos. Durante o governo republicano de George W.Bush, o ensino religioso nas escolas fundamentais ganhou novo alento – e a crítica da comunidade científica é de que o ensino do criacionismo tem sido priorizado. “Do ponto de vista científico, o que o museu mostra é simplesmente ridículo’, critica Steven Newton, um dos diretores do Centro Nacional para Educação em Ciência (NCSE, sigla em inglês), uma das instituições que mais fazem oposição ao trabalho do AIG. ‘Essas pessoas acreditam que a Terra tem apenas 6 mil anos de idade, o que não faz nenhum sentido e pode ser provado como equivocado’, fulmina. O NCSE tenta frear o fortalecimento do ensino do criacionismo nas escolas. ‘Estes grupos estão cada vez mais fortes e querem que o ensino religioso ganhe espaço nas escolas como se tivesse alguma base científica’, diz Newton. ‘Queremos que a religião fique de fora do ensino de ciência, pois isso atrapalha e confunde os estudantes, o que é ruim para o país como um todo.”
Questionado sobre as críticas, Mark Looy diz não se importar. “Muitos nos ridicularizam. As pessoas têm uma visão diferente, e não acreditam no que defendemos’, disse, lembrando que no passado ele próprio era um crítico do criacionismo. Segundo ele, o AIG não defende o ensino obrigatório do criacionismo nas escolas públicas, mas somente na rede privada – no entanto, advoga a liberdade para que os professores também possam apresentar o criacionismo às crianças, da mesma forma que o evolucionismo é ensinado.
(Com reportagem do G1)
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