Jean-Jacques Rousseau – um pensador angustiado
Biografia e Pensamentos: Quem Foi Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, no dia vinte e oito de junho. Ele teve grandes influências de Paris e da França, mas se orgulhava de sua origem genebrina e de ser um cidadão dessa cidade. Os antepassados de Rousseau eram de origem francesa. Ele tinha respeito pela França. A família de Jean-Jacques era de relojoeiros. Possuíam pequena fortuna e eram pequenos burgueses. O pai de Rousseau, Isaac, era despreocupado e instável, mesmo um pouco agressivo. Foi para Constantinopla, mas sua mulher, Suzanne, pediu para que voltasse. Jean foi concebido nessa época. Sua mãe morreu uma semana após o parto. Jean tinha um irmão desaparecido que não conheceu. Chamava-se François.
Suzanne, era de uma família mais importante que Isaac. Rousseau fala dela com emoção. Ela desenhava, cantava e lia. Foi de sua coleção de romances que Jean tirou a primeira parte de sua educação. Ele e o pai ficavam horas lendo depois da ceia. Depois de esgotado o acervo, forma para a biblioteca do avô, onde encontraram livros de leitura complexa. Rousseau gostou da literatura romana.
Isaac Rousseau teve um desentendimento com um capitão francês. Brigando com ele, foi preso, mas preferiu abandonar Genebra, em 1722. Isso tornou Rousseau quase órfão. Estava sendo criado por uma tia e uma empregada, além do pai. Ficou sob a tutela de um tio por parte da mãe, Bernard, que era casado com uma irmã de Isaac. Isaac tinha muitos irmãos.
Jean morou em Bossey por dois anos. Gostava da vida campestre e dos brinquedos. Ficou na casa de um pastor. Às vezes era castigado pela filha do pastor, Srta. Lambecier e sentia prazer nisso. Ela percebeu e começou a lhe tratar como menino grande. Mas em certa ocasião, Rousseau foi acusado de quebrar um pente e recebeu duro corretivo de outro. Bossey perdeu o encanto e Bernard o tirou daquela casa. Rousseau diz nas Confissões, autobiografia escrita no fim da vida, que passou dois ou três anos na casa do tio sem ocupação precisa. Relata os primeiros amores de forma fantasiosa. Com doze anos foi para Genebra. Empregaram-no como menino de recados. O tabelião dispensou-o do trabalho por inépcia. Depois foi aprendiz de gravador. Por brincadeira falsificava medalhas e presenteava os amigos. Foi descoberto e punido Tornou-se temeroso, dissimulado e ladrão de pequenas coisas,como maçãs. Durante um ano, leu todos os livros de uma loja que os alugava.
Rousseau, aos dezesseis anos , ficava com os amigos nos arredores da cidade, que tinha portões. Perdeu o toque de recolher e encontrou os portões fechados por duas vezes, sendo punido por seu mestre. Na terceira, resolveu não voltar mais. Adorou os primeiros dias de liberdade. Encontrou muitas coisas novas, ajuda e amantes.
Foi para uma cidade perto de Genebra, onde se dirige ao cura de Confignon. Jantaram e conversaram, discordando. Rousseau cedeu. O cura encaminhou-o à senhora de Warens, em Annency. Se surpreendeu com a beleza dessa mulher, que tinha vinte e oito anos. Ela era separada e recebia pensão do rei. Ajudava os viajantes e desgraçados. Rousseau foi para Turim, mas voltaria a encontrar Louise Warens.
Em Turim entrou para o asilo do espírito Santo, para tornar-se católico. Adquiriu repugnância pelo catolicismo. Saiu de lá e fez bico como gravador. Depois trabalhou escrevendo cartas para a condessa de Vercells, que estava doente. Passou três meses nessa casa, até a condessa falecer. Rousseau afirma que às vezes ele era um herói, às vezes um patife. Foi trabalhar na casa de um sobrinho da condessa, conde de La Rocque. Tomou lições de latim com um padre. Sob a influência de um amigo, aprontou várias na casa do conde e foi despedido. Partiu em viagem errante com Bâcle,o amigo. Rousseau queria reencontrar Louise, em Annency. Ele a chamava de mamãe. Ficou na casa de Louise, aos dezessete anos. Depois, tornou-se seminarista. O instrutor de Emílio foi inspirado nos vigários do seminário. Rousseau aprende música. Adora música, era uma de suas grandes paixões.
Viaja e passa por Genebra. Em Lyon, revê o pai. Em Lausanne tentou empregar-se como músico, com nome falso. Em Soleure, conheceu o embaixador da França. Viaja novamente em busca da Sra. de Warens. Volta a Lyon. Trabalha copiando música. Encontra a Sra. de Warens em Chambéry. Começou a trabalhar para o rei como secretário. Descobriu que Louise de Warens era amante de Claude Anet, camponês que trabalhava no jardim de Louise. Ela sempre gostou de botânica, e ficava envolvida com plantas e drogas. Passaram a viver como trio. Rousseau se dedica a aprender música.
A Sra. de Warens tivera como primeiro amante o sr. Tavel, professor de filosofia. Ele a tornou uma mulher liberal e sem preconceitos. Quando Anet morreu, Rousseau teve de ocupar seu lugar na casa, sem possuir as mesmas qualificações.
Rousseau lê algumas obras de Voltaire, com quem ia polemizar mais tarde e gosta muito. Em 1737 assistiu a guerra civil de Genebra, guardando depois dolorosas recordações. Continua a estudar Rameau em música. Conheceu Rameau mais tarde, como compositor. Aprende xadrez. Então adoeceu. Ele e Sra. de Warens retiram-se no campo para a convalescença- Sem suportar tomar leite, Rousseau estraga o estômago de tanto beber água. É nessa época que se considera um homem morto, e diz que começa a viver.
Começou a refletir sobre religião. Teve muita influência da Sra. de Warens nesse campo. Rousseau, com vinte e cinco anos dividiu a herança da mãe que passou a ter direito com Louise. Comprou livros e se dedicou ao estudo. Lê Leibniz, Locke, Malenbranche na filosofia. Estuda geometria, começando por Euclides. Formou um armazém de idéias dos autores, na esquematização do conhecimento adquirido. à tarde , estudava história e geografia.
Mas sua saúde piorava. Viajou para tratar do que acreditava ser uma doença no coração. No caminho viu a peça Alzire, de Voltaire, que o deixou mais doente. Teve um caso com a Sra. Larnage, que era casada. Esqueceu Louise. Quando voltou para vê-la, ela estava com outro jovem. Depois de um período, partiu para Charmettes, pois sua relação com Louise havia se tornado fria e ela se tornou apenas a “mamãe” mesmo.
Virou preceptor dos dois filhos do Sr. de Mably, em Lion, em 1740.Foi mal sucedido.Os alunos não aprendiam e ele não sabia ensinar. Pediu demissão. Elaborou um novo método de notação musical, que levou a Paris. Tinha algumas cartas de apresentação. Conhece Diderot. Consegue chegar na Academia e apresenta seu método. A academia apresenta objeções, dizendo não ser novo nem útil. Conhece Fontenelle. Diderot também era músico, além de filósofo e ficaram amigos. Diderot tinha aproximadamente a mesma idade de Rousseau. Rousseau se apaixona pela Sra. Dupon, mas não se declara. Só o faz por carta, encontrando frieza. Compõe uma ópera, mas não leva adiante o projeto. Viaja pela Europa e passa por Veneza, onde tem a idéia de escrever uma obra política. Visita o pai. Ocupa-se como professor de Thérese. Termina a ópera obtendo um sucesso moderado. Volta a Paris.
Diderot e d’Alembert haviam começado o dicionário Enciclopédico, que era inspirado na Enciclopédia inglesa, e procuravam colaboradores. Rousseau redigiu toda a parte musical sem receber nada. Diderot enfrenta complicações por causa da sua Carta sobre os cegos e é preso..
Em 1749, Rousseau fica sabendo de um mote proposto pela Academia de Dyon: Se o progresso das ciências e das artes contribuiu para corromper ou aprimorar os costumes. Fica muito emocionado, tomado por idéias. Um universo se abre diante dele. Redige algumas linhas e mostra a Diderot, que o encoraja a concorrer ao prêmio.
Redige a obra e nas Confissões , fala que ela, cheia de calor e força, carece de lógica e ordem. Seu discurso ganhou o prêmio. Muito entusiasmado, se resolve a ser escritor. A obra Discurso sobre o desenvolvimento das ciências e das artes fala que as ciências e as artes foram prejudiciais ao espírito humano durante seu progresso, por serem corrompedoras. Os costumes se degeneraram com o avanço das ciências. O egocentrismo e o amor próprio substituíram a virtude. Contrapõe à sociedade ocidental, que julga estar muito afastada da pureza, o estado selvagem. Ele desenvolverá esse tema em seu próximo discurso.
Rousseau não criou os cinco filhos que teve com Thérese, com a qual acabou por casar. Se instalou em Paris e com ela. Mas foi acometido de nova crise de saúde, dessa vez um problema na bexiga. Em 1751 redige a Parábola e em 1753 Alegoria sobre a revelação. Rousseau se encontrava com a intelectualidade do Iluminismo francês na casa do Barão d’Holbach, um ateu muito rico, autor de o Sistema da natureza. Rousseau não simpatizava com ele. Era amigo também de Grimm e Condillac, que estava enfrentando problemas com o seu novo livro porque a metafísica estava fora de moda na época. Rousseau gostava de Duclos, que conhecera na casa da Sra. d’Epinay.
Por não querer ser apresentado ao rei, Rousseau fugiu. Diderot o censurou. Rousseau introduziu alguma música italiana na França. Escreve a Carta sobre a música francesa ,que causa escândalo. Para piorar, é acusado de plágio em sua ópera, O adivinho da aldeia, que lhe rendeu dinheiro por muitos anos. Em 1753 a Academia de Dijon propõe outro assunto: A origem da desigualdade entre os homens. Rousseau vai para o campo procurar os segredos da vida natural. Diderot gostou dessa obra, mas eles acabaram por se desentender. Rousseau não ganhou o prêmio.
Em Lion, Rousseau reencontra a Sra. de Warens. Estava num estado lamentável. Vai então para Genebra. A dedicatória do Discurso sobre as origens e os fundamentos da desigualdade entre os homens, feita aos cidadãos de Genebra, foi terminada em Chambéry. Simpatiza por uma casinha e passa a morar nela. A casa tinha o nome de Érmitage. Voltaire se instalara perto de Genebra. Tinha idéias para escrever as Instituições políticas, obra que não chegou a terminar. Pensava sobre qual é o melhor governo possível, que se mantém fiel a lei. Fica então isolado, rompe com o otimismo do século das luzes. Visitava de vez em quando madame d’Epinay, pela qual não sentia atração.
Voltaire escreveu um poema sobre o desastre de Lisboa, contra o otimismo. Rousseau escreveu-lhe uma carta desculpando a providência. Voltaire não respondeu na hora. Sua resposta à questão do otimismo só veio em Cândido.
Rousseau começa uma obra lírica, a Nova Heloísa. Conta a história de duas mulheres com características diferentes. Uma morena, outra loira. Uma meiga, outra viva. Vai vivendo em Érmitage e rompe com Grimm. Os amigos o abandonam.
Escreve Carta a d’Alembert sobre os espetáculos. Rompe com Diderot. Um marechal oferece-lhe moradia e ele aceita, começando Emílio e terminando Contrato Social. Desde Érmitage começara a trabalhar nessa obra.(Emílio) Pensou durante vinte anos e escreveu três. Em 1761 surgiu A paz perpétua e logo depois Ensaio sobre a origem das línguas. Emílio fala de um garoto que experimenta a simplicidade da vida do campo durante sua formação. Conhece a vida dura de trabalhos manuais. Rousseau julgava ser necessário uma infância solitária para que o menino conheça os deveres de ser cidadão apenas na hora certa e não se desvirtuasse na sociedade. Emílio só conhece o mestre, que busca incentivas as aptidões naturais do menino, e lhe dá uma educação sem frugalidades. Emílio só será encaminhado à sociedade na maturidade, quando conhecerá uma cidade grande.
O Contrato social foi publicado em 1762. Rousseau enfrenta opiniões contrárias e suspeita de complôs, de estar sendo perseguido. Antes que o prendam, foge. O livro causou problemas porque apontava o povo como origem legítima do governo. Quando ia saindo de sua casa, passa por quatro homens vestidos de preto, os oficiais de justiça, que iam prendê-lo. Vai para Yverdon. Pretende ir para Genebra. O parlamento de Paris condena Emílio a ser queimado e rasgado. O mesmo acontece com O contrato social. E também é decretada a prisão de Rousseau se ele aparecer em Genebra. Rousseau instala-se em Motrers. Frederico, rei da Prússia, deu-lhe dinheiro e madeira para o inverno. Rousseau abdica do título de cidadão de Genebra. Evita cerimônias públicas, pois o povo se inquieta contra ele e as autoridades fingem nada ver, não oferecendo proteção. No Contrato social, havia falado da Córsega, dizendo que esta ainda surpreenderá a Europa. Passa da teoria à prática escrevendo um Projeto para a legislação da Córsega, a pedido dos corsos. Em 1765, volta a Paris. Pretende permanecer incógnito, mas fica assim por pouco tempo. Quando tinha ido para a Suíça, recebera uma carta lisonjeira de Hume. Em Estrasbugo, recebeu outra, que respondeu. Aceita o convite de Hume para ir para a Inglaterra. No início mora numa casa de um amigo de Hume. Depois, muda-se para a casa de um vendeiro. Permanece por pouco tempo e vai para a casa de um burguês. Hume foi durante um período, protetor de Rousseau, que havia passado por tantas injúrias.
Foi então que se sucedeu o incidente que os separou e fez Rousseau ficar paranóico de uma vez. Uma carta, pretensamente de Frederico, circulara em Paris em 1765. Quando a carta foi publicada num jornal, Rousseau a leu e ficou afetado profundamente. A carta foi escrita por Horace Nalpole, que assinou Frederico. Falava da perseguição de Rousseau e oferecia abrigo da Prússia. Tratava Rousseau como se fosse louco. Rousseau soube que Horace era amigo de Hume e ficou furioso. Renuncia a pensão secreta que fora oferecida, pois não queria aceitar favores de Hume.
Hume fica indignado e alega inocência. Rousseau escreve uma carta com mais de trinta páginas, afetado por imaginação e complexo de perseguição. Encontrando Hume pessoalmente, Rousseau se arrepende. Mas a relação estava comprometida. Por cartas, despedem-se para sempre. Hume escreve a Exposição sucinta da contenda surgida entre o sr. Hume e o sr. Rousseau, em 1766. A partir de 1767, Rousseau é tomado por acesso de loucura e fica obcecado pela suspeita da maquinação de que fora vítima. Viaja muito pela Europa. Começa a escrever Confissões. Queria dar sua visão a respeito dos acontecimentos que marcaram sua vida atribulada. Volta a profissão de copista. No final de 1770 , termina Confissões. A partir de 1772 redige Diálogos. Vive uma vida reservada. Vai para Ermonville,em 1778 onde morre pouco depois.
Principais obras de Jean-Jacques Rousseau
Rousseau foi um escritor fecundo e trabalhou febrilmente duranto longo período de vida. Abaixo uma lista de seus escritos mais referenciados:
* Dissertação sobre a música moderna, 1736
* Discurso sobre as ciências e as artes (Discours sur les sciences et les arts), 1750
* Narciso ou o Amante de si mesmo: 1752
* Discurso sobre a origem e os fundamentos da Desigualdade entre os homens (Discours sur l’origine et les fondements de l’inégalité parmi les hommes), 1754
* Discurso sobre economia política, 1755
* Carta a D’Alembert sobre os espetáculos, 1758 (Lettre à d’Alembert sur les spectacles)
* Júlia, ou a Nova Heloísa (Julie, ou la nouvelle Héloïse), 1761
* Emílio, ou Da Educação (Émile ou de l’éducation), 1762
* A Profissão de Fé do Vigário Saboiano, 1762 (in Émile)
* Do Contrato Social (Du contrat social), 1762
* Cartas da Montanha, 1764 (Lettres de la montagne)
* As Confissões (Les Confessions), 1770, publicadas em 1782
* Projeto de Constituição da Córsega, 1772
* Considerações sobre o governo da Polônia, 1772
* Ensaio sobre a origem das línguas, publicado em 1781 (Essai sur l’origine des langues)
* Os Devaneios do Caminhantes solitário, 1782 (Rêveries du promeneur solitaire)
* Diálogos: Rousseau Juiz de Jean-Jacques, publicado em 1782
Resumo do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
Introdução- Essa obra filosófica é continuação do Discurso sobre as ciências e as artes, onde exerce a crítica moral e política. Rousseau fala de uma reforma social e política. Tenta encontrar o que é natural no homem e não foi corrompido pela sociedade. Ele descreve, em especulação abstrata e racional, como era o homem no estado de natureza. É nesse livro que se encontra bem demonstrado o princípio rousseano que ficou famoso, de que o homem é bom e a sociedade o corrompe. O homem mal governado é rico apenas em vícios.
Esse livro de Rousseau marca uma ruptura e um progresso em relação ao discurso das artes. Tem maior perspectiva histórica e antropológica. Nesse livro estão caracterizados os aspectos que vieram a fazer dele um precursor do romantismo. Rousseau também fala de ecologia, quando ninguém falava, e defende os povos selvagens, que naquela época (1753) costumavam ser explorados e mal compreendidos. Também atenta para os perigos da superpopulação. Era um leitor ávido de relatos de viagens, e suas descrições dos nativos, indígenas e africanos. O homem da natureza que descreve encontrou em si mesmo, quando buscava uma meditação voltada para dentro nos campos de Sait German. Ele admite que é muito difícil, senão impossível, o homem voltar ao estado de natureza. Tal volta teria de trazer consigo os aspectos positivos da civilização. Em certo trecho, Rousseau abençoa o momento em que o homem começou a se civilizar, sem contudo deixar de exercer a análise crítica.
Na época da publicação, já é um escritor célebre. Partindo do tema da Academia de Dijon, Rousseau tenta ver a natureza fora da perspectiva social, identificando o que o homem corrompeu do estado natural através da civilização e quais são os males que vem com ela. A origem desses males vem do homem, e ele sempre os atribuía à natureza. Rousseau não ganhou o prêmio da Academia. Mas o livro destina-se a todos os humanos. Rey, livreiro e amigo de Rousseau ajudou a publicar o livro, no início de 1755.
Desde 1743, Rousseau estudava os clássicos de política. A moral e a política estão juntas em Platão, Aristóteles, Spinoza, Montesquieu, Grotius, Pufendorf, Hobbes e Locke. Rousseau tem influência, mas não concordância, desses quatro últimos.
Hobbes falou do estado de natureza para justificar o absolutismo e a origem da sociedade. Para Hobbes, o homem no estado de natureza é competitivo e egocêntrico, senso o homem o lobo do próprio homem. A sociedade regida pela política seria necessária para controlar o instinto violento do homem.
Pufendorf são iguais no estado de natureza e a autoridade não é legitimada, ningúem manda em ninguém. A autoridade política deriva de um contrato. Para Locke, a sociedade garante os direitos naturais como o direito à propriedade. Pufendorf opõe-se a Hobbes, pois diz que no estado de natureza existe a sociabilidade e a razão.
Rousseau recusa as teorias dos dois. Para ele a razão só veio com a sociedade e com a linguagem. O estado de natureza não tem existência histórica. A utilidade dessa hipótese serve para esclarecer a natureza das coisa, serve como referência. Permite julgar moralmente a degradação do homem social.
Esse livro deve ser lido antes de o Do Contrato Social. Já esboça nele seu projeto de justificar o governo, da passagem do estado de natureza em que o homem é solitário, para a sociedade civil, onde o povo e o soberano devem ser a mesma pessoa. Vamos então ver, em algumas passagens com as palavras de Rousseau, um resumo desse importante discurso.
Resumo- O livro começa com uma citação de A política, de Aristóteles, que diz ser preciso estudar o que é natural nos seres que vivem conforme a natureza. Ele se dirige aos cidadãos de Genebra, e não apenas aos que detém o poder. Genebra era governada por um grupo de vinte e cinco homens na época.
Na natureza , existe a igualdade. A desigualdade provém dos homens. Rousseau fala que se pudesse escolher onde nascer, escolheria um lugar onde o amor entre os cidadãos fosse maior que o amor à pátria. Rousseau tem Esparta como exemplo. Lá se vivia uma vida dura, em exposição aos elementos naturais e com vigor físico. A relação entre as pessoas é direta é igual.
Rousseau critica o absolutismo francês, e prefere a democracia. A lei deve ser igual para todos, e ninguém deve se por acima dela. Esses tópicos estarão presentes no Do contrato social. Os costumes, através de gerações levam à obediência passiva. Hume, em seus Discursos morais, políticos e literários também fala coisa semelhante. A liberdade é boa e nutre os fortes, mas abate os fracos. Na pátria que Rousseau queria ter nascido, os homens, acostumados à independência, são dignos dela. Nela, o domínio da fronteira não seria motivo de guerra. O direito de legislar seria comum a todos os cidadãos. No Do contrato social, Rousseau fala da figura do legislador, que deve representar a vontade geral.
Rousseau diz que teria fugido de uma república onde o povo fosse por si só e dispensasse os magistrados, vindo diretamente do estado de natureza. Isso foi o motivo da perdição da república de Atenas. No discurso que pronunciaria aos seus concidadãos, Rousseau diria que a felicidade se torna duradoura se bem usufruída. O amargor e a desconfiança levam à desgraça e à ruptura do Estado. Deve-se meditar sobre isso, procurando o coração. Deve-se preferir a moderação, simplicidade e respeito às leis. O discurso é uma crítica aos cidadãos que eram contra ao edito que dava poderes para um pequeno grupo, em Genebra.
Rousseau agradece seu pai e lamenta sua juventude louca. Fala dos homens simples que fazem a sociedade. Esses homens amam a pátria e tem religião.
As mulheres garantem a paz. Seu destino é governar o homem. São guardiãs dos costumes. Rousseau tira o exemplo das mulheres virtuosas da antigüidade.
O conhecimento humano mais avançado é o de si mesmo. Rousseau prefere a máxima “conhece-te a si mesmo” aos imensos tratados dos moralistas. Para conhecer a origem da desigualdade entre os homens, é preciso conhecer o próprio homem.
A alma humana é moldada nas vivências. Ela está irreconhecível, depois de ter sido influenciado de todas as formas por conhecimentos , erros e pelo impacto das paixões. Deus criou a alma com majestosa simplicidade. O desejo de auto conhecimento vem do homem do homem, o civilizado, que acaba por ignorar-se. Rousseau critica a filosofia, que desde a antigüidade vem se contradizendo e pouco sobre as experiências necessárias para ver o homem natural e sua aplicação na prática. Os filósofos chegaram a princípios metafísicos difíceis de compreender.
No homem natural, o que opera não é a razão. Ele é solitário e sua alma tem realizações simples.
Quando a sua preservação está ameaçada, o homem dá preferência a si. Ele deve ter o direito de não sem maltratado sem motivo. A vontade divina fez o homem bom. A arte humana o corrompeu. Rousseau identifica dois tipos de desigualdade entre os homens. Uma natural, como a da idade, e outra social, como a de dinheiro. A ultima pode se chamada de moral. Rousseau fala do momento que o direito sucedeu a violência e a natureza se submeteu a lei humana. Foi quando o mais forte começou a se servir do mais fraco.
Pufendort e Locke não conseguiram falar do estado de natureza, pois identificaram a lei natural como racional e puseram no estado de natureza idéias sociais, como também fez Hobbes. Rousseau , par estudar isso, afasta os fatos. Faz um apelo para ser ouvido. Fala de tempos distantes, para reconhecer o tempo em que não havia individualidade. Busca a natureza quase esquecida, ignorada, no homem moderno.
Usando de intuição, Rousseau imagina o homem nos primórdios. O homem natural tinha necessidades simples e era o mais organizado dos animais. A fertilidade da terra não mutilada oferece provisões. Os animais elevam seus instintos. O homem copia os animais. O ser humano e seus filhos são robustos. A natureza seleciona os mais fortes. Ao dizer isso Rousseau se antecipa a Darwin. O contato com a natureza e com os animas faz os homens corajosos. Tudo corre de maneira uniforme.
Rousseau ataca também a medicina. Os males como a fadiga e o esgotamento espiritual existem porque não vivemos a vida solitária, como a natureza manda. Rousseau diz ser a reflexão corrompedora do homem. A reflexão é contrária à natureza. Nessa frase ele manifesta seu anti-racionalismo. A maneira de viver civilizada, baseada na sociabilidade e escravidão, fez o homem perder o vigor, tornar-se fraco e medroso. Isso também acontece com animais domésticos.
Rousseau cita relatos de viagens feitos por outros. Os povos selvagens tem os instintos muito aguçados. Com influência do mecanicismo cartesiano, Rousseau fala do aspecto metafísico e moral do homem natural. Para ele, os animais também tem idéias e entendimento.
O homem selvagem no início é um animal. Deseja e teme. As coisas boas que conhece são a comida, o sexo e o descanso. Ele teme a dor e a fome. O temor da morte veio quando o homem se distanciou do animal.
O fogo, a agricultura e a comunicação foram importantes nesse estado evolutivo entre a selvageria e a civilização. Rousseau se inspira em Condillac, Maupertius e Diderot para falar sobre a origem das línguas. Para Rousseau, existe um paradoxo nessa origem. A linguagem só pode ter surgido com a sociedade e o pensamento, que só podem ser concebidos pela linguagem.
A piedade é o princípio ignorado por Hobbes em sua definição de estado de natureza. A natureza dotou todos de piedade. É um instinto da espécie, que modera o amor próprio e faz com que nos identifiquemos com o semelhante. Em oposição à piedade existem as paixões violentas. Quanto mais elas se propagam, mais necessárias são as leis. O estado de natureza não é um fato histórico, mas um fato filosófico.
A sociedade civil começou a propriedade. O progresso e a indústria evoluíram com o tempo, pondo fim aos últimos estágios do estado de natureza. O homem aprendeu a combater os animais, contornar obstáculos naturais, ceder ao mais forte. A conseqüência disso no espírito foram as relações, os valores. Rousseau prossegue em seu historicismo. O homem começa a construir cabanas, usar as pedras, dividir-se em famílias.
A fêmea que antes vivia em igual condição com o macho, passou a ser mais sedentária. Ambos perderam a ferocidade. O hábito fez surgirem mais necessidades. O homem é infeliz em perdê-las, sem ser feliz em tê-las. Assim vai surgindo a desigualdade, grupos vão tomando conta de áreas. O progresso é positivo e negativo. O ciúme nasce do amar. A vaidade nasce da propriedade. Concorrências surgiram , viam quem desempenhava melhor certas atividades.
Os povos selvagens da época de Rousseau (indígenas e africanos) não estavam mais em estado de natureza, segundo ele, pois são sanguinários. Rousseau continua sua análise do progresso. A moralidade e opiniões tornaram-se mais severas. Quando um homem passou a necessitar do outro, a igualdade desapareceu. O ferro e o fogo civilizaram os homens, arruinando-os. Quando se precisou dos homens para forjar o ferro, precisou-se de outros para alimentá-los. Assim surgiu o trabalho e desenvolveu-se a propriedade. A desigualdade está ligada à propriedade. Mesmo trabalhando tanto quanto o outro, um tem de sofrer.
Com a desigualdade vem um estado de guerra, de todos contra todos. Para se desvencilhar disso, os vizinhos de uma área precisaram entrar num acordo, estabelecer um contrato. Para Rousseau, isso é negativo, pois no resultado final favorece os ricos. As sociedades se multiplicaram rapidamente.O acordo mútuo não impediu os massacres. O principal direito do homem é a liberdade. Os pobres só tem ela a perder, mas pode-se dizer que são escravos. Os povos instituíram chefes para assegurar a liberdade, para escapar da escravidão, e não o contrário. Os princípes devem obedecer às leis, serem submetidos a elas. O direito à propriedade é apenas convenção humana, diz Rousseau, contrariando o Locke disse.
Rousseau inicia então a descrição da evolução política. Diz que o sangue humano foi sacrificado para a pretensa liberdade do Estado. No progresso da desigualdade, o poder legítimo foi substituído pelo poder arbitrário. Assim, em diferentes épocas tivemos ricos e pobres, poderosos e fracos, senhores e escravos. Como conseqüência do progresso e da desigualdade surgem preconceitos contrários à razão e à virtude. Tendo o súdito apenas a vontade do senhor, e o senhor apenas suas paixões, some a justiça, cria-se um novo estado de natureza, fruto da corrupção.
Nos comentários, Rousseau cita exemplo de humanos que andam de quatro. Mas ele fala das adequações anatômicas que o homem precisou ter para ser bípede. Depois ele comenta com informações, sua teoria da fertilidade natural da Terra.
Rousseau defende o regime vegetariano para o homem, observando que seus dentes e intestinos são semelhantes aos dos animais frugívoros. A presa é motivo de combate. Adotando o regime vegetariano, o estado de natureza ficaria mais fácil de alcançar e a paz reinaria.
Rousseau coloca mais exemplos de selvagens, para demonstrar que os corpos e sentidos destes são mais adequados e desenvolvidos que o do homem civilizado. Ele tem uma preocupação ecológica. Foi a violência da atitude do homem contra a natureza que o tornou infeliz, mas isso não aconteceu sem esforço. Naturalmente, o homem é bom , mas ficou mal. O luxo tem papel importante na decadência do Estado e desigualdade social.
Rousseau alerta para não se tirar a conclusão de que é necessário um retorno ao estado de natureza. A simplicidade original está perdida. Deve só não ficar muito afastado da natureza.
Na nota seguinte, ele fala de algumas semelhanças entre o homem e o orogotango. Fala também de um povo selvagem da África, que é muito forte. Sugere que se façam mais viagens ao redor do mundo, e se escreva uma história natural original. Levi Strauss viu nessa nota as origens e os fundamentos etnologia. Na próxima nota, Rousseau cita Locke, e questiona se a manutenção da família é ou não necessária. No estado de natureza do homem, ela não é estritamente necessária.
O amor próprio não existe no estado de natureza. É um sentimento que leva a pessoa a se achar melhor que a outra. O amor de si mesmo, por sua vez, está ligado ao instinto de auto preservação e leva a humanidade à virtude. É importante entender a diferença entre esses dois sentimentos.
Os selvagens não são tão infelizes quanto parecem. Eles preferem sua vida a uma civilizada, conforme Rousseau demonstra com exemplos.
Kant classifica como inevitável a contradição entre civilização e natureza do gênero humano enquanto espécie física, onde os indivíduos devem cumprir seu destino.
Fichte faz louvor a memória de Rousseau, dizendo que inflamou almas, alcançou um efeito maior que o esperado e que Rousseau é o homem da sensibilidade passiva. , que debilita a sensibilidade e não pontifica a razão.
Engels comenta o livro, ressaltando o fato de ser a propriedade mãe da desigualdade. Starobinski fala que a conclusão do discurso é notável, por introduzir a noção de igualdade civil. Ressalta as impossibilidades que Rousseau aponta. Não se pode retroceder ao estado de natureza e o homem civilizado está corrompido.
Depois de concluir essa obra Rousseau garantiu sua fama, tornando célebre. Isso se deve mais ao caráter polêmico da obra e do próprio mote escolhido pela Academia de Dijon, que Roosseau elogia, do que a opiniões favoráveis. As opiniões favoráveis existiram, na época, mas o que prevalece é a aversão ao seu caráter revolucionário. Rousseau, que desde que ficou amigo de um camponês indignou-se com a exploração, foi analisado por Voltaire, que escreveu em pé de página: “Eis um miserável quer fazer dos ricos pobres e dos pobres ricos”. Em uma carta irônica, escreveu que o livro lhe dava vontade andar de quatro patas, mas que já tinha abandonado esse hábito há sessenta anos. Além disso estava ao lado do maio médico da Europa (Rousseau condenava a medicina). E sabendo que Rousseau não havia retornado a Genebra, sua pátria, para não cruzar com ele, convida-o para viver perto dele e beber o leite de suas vacas. Rousseau respondeu chamando-o de mestre, e dizendo que não havia perigo de se voltar a andar de quatro patas. E que ele, Voltaire sem dúvida ficava melhor de pé.
Com esse livro, Rousseau abriu caminho para sua obra mais polêmica e discutida, Do contrato social. Fiz um resumo do livro e depois acrescentei algumas notas analíticas. Vejamos, em linhas gerais, e nas palavras de Rousseau o que diz essa obra.
Resumo de Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau.
Introdução- Rousseau é influenciado desde que era embaixador em Veneza, por Grotius e Pufendorf, dentre outros, conforme já vimos. Grotius falava, sobre o contrato social, que ele legitima o poder e funda a sociedade civil.
Pufendorf falava de dois tipos de pactos: o de associação, no qual a sociedade se mantém depois de cair um governo e o de submissão, no qual o povo e governado por um soberano. Outra influência de Rousseau é Althibius.
Rousseau escreveu nas Confissões que a publicação de Emílio foi complicada, e a do Contrato foi bem mais fácil. Emílio era uma obra muito querida por Rousseau era a obra que concluía as suas idéias sobre educação.
Nova Heloísa havia feito muito sucesso. Rousseau era um autor consagrado. Instituições Políticas era a obra que Rousseau mais se entusiasmava, e queria trabalhar nela a vida inteira. Foi dessa obra reduzida, que nasceu o Contrato social. Rousseau atirou as provas originais do seu grande livro no fogo, depois de redigir o Contrato. Ele achava que as Instituições iam precisar serem muito bem trabalhadas ainda.
O livro pretende mostrar qual é o fundamento da ordem social. Ela não vem do direito natural, nem da força, mas de uma convenção, o pacto social.
O homem perdeu a liberdade original. Rousseau procura explicar o que torna essa mudança legítima. A ordem social é um direito sagrado que não existe na natureza e funda-se em convenções. A mais antiga das sociedades é a família, diz Rousseau. O pai tem cuidado com os filhos e por isso sente amor. No Estado, o governante não ama o povo, mas tem prazer em governar. Alguns filósofos falaram que a desigualdade é natural, alguns nascem para governar, outros para serem governados.
Resumo- Ceder à força não é um dever. A desigualdade surge com a força, que é transformada em direito. Somos obrigados a obedecer as potências legítimas. É da relação das coisas e não das relações pessoais que nasce o estado de guerra. A guerra é uma relação entre os estados e não uma relação entre os homens. Rousseau analisa o direito de conquista, que vem da lei do mais forte.
Rousseau vê num rei e seu povo, o senhor seu escravo, pois o interesse de um só homem será sempre o interesse privado.
Os homens para se conservarem, se agregam e formam um conjunto de forças com único objetivo.
No contrato social, os bens são protegidos e a pessoa, unindo-se às outras obedecem a si mesmo, conservando a liberdade. O pacto social pode ser definido quando “cada um de nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral”.
As pessoas públicas formas a República, são chamada o Estado, quando passivas, e soberanos quando ativas. O soberano não pode violar o contrato, alienar qualquer porção de si mesmo. O corpo político não pode se submeter a outro soberano. Isso seria se auto aniquilar. Com uma sociedade, quando se ofende um, ofende todo o corpo. O soberano não pode ter uma opinião contrária a todos, mas o indivíduo pode.
Na passagem do estado de natureza para o estado civil, o homem muda, O instinto é substituído pela justiça. Qualquer quebra ao compromisso do contrato, implica a uma volta ao estado de natureza. O homem passa a ser moral e racional. A mudança acarreta vantagens e desvantagens. Ganha a liberdade civil e a propriedade. Perde a liberdade natural.
O direito a um terreno se fortalece. Rousseau questiona o direito a uma área do primeiro ocupante. As leis são úteis àqueles que possuem, e prejudicam os que nada tem. O Estado existe para o bem comum, e a vontade geral deve dirigi-lo para esse fim.
Vontade geral é um ato de soberania, atende ao povo, por isso é lei. Esse é o princípio que devia ser obedecido, mas nem sempre é assim. O soberano é feito um ser fantástico. A soberania é indivísvel e inalienável.
Os compromissos do corpo social são mútuos. Trabalhando para os outros, trabalha-se para si mesmo. Os indivíduos tem suas vontades particulares, mas também existe a vontade geral. Cada homem é legislador e sujeito, obedecendo a leis que lhe são favoráveis. O tratado social tem por finalidade conservar os contratantes.
Rousseau defende a pena de morte para quem violar o contrato. Mas só pode matar com que não pode continuar sem perigo. A justiça vem de Deus, mas por não sabermos recebê-la são necessárias as leis da razão que devem servir a todos.
Quando o povo estatui algo para todo o povo, forma-se uma relação. A matéria e a vontade que fazem o estatuto são gerais, e a isso Rousseau chama lei. A república é todo estado regido por leis, Mesmo a monarquia pode ser uma república. O povo submetido às leis deve ser o autor delas. Mas o povo não sabe criar leis, é preciso é um legislador. Rousseau admite que é uma tarefa difícil encontrar um bom legislador. Um legislador deve fazer as leis de acordo com o povo.
A relação entre o tamanho do território e o número de habitantes é o que faz a medida do tamanho de um Estado. Os maiores bens de todos são a igualdade e a liberdade. O livro de Rousseau é considerado a Bíblia da Revolução francesa. Os cidadãos devem ter uma riqueza tal que ninguém seja forçado a se vender.
No livro III do Contrato, Rousseau fala do governo. Reconhece duas causas para uma ação: a moral, a vontade é uma e a outra é física, a potência. O governo é um corpo intermediário entre o súdito e o soberano. É uma administração suprema em que o príncipe exerce o poder executivo.
Os governantes , ou magistrados, não devem ser numerosos, para não se enfraquecer, pois quanto mais atua sobre si mesmo, menos influência tem sobre o todo. Na pessoa do magistrado há três vontades diferentes: a do indivíduo, a vontade comum dos magistrados e a vontade do povo, que é a principal.
Rousseau explica porque o governo deve ser centralizado. No entanto era contra o absolutismo que reinava na época. Então ele analisa as três formas de governo.
Na democracia os cidadãos exercem o magistrado. Na aristocracia, existem mais cidadão comuns que magistrados. Na monarquia, há apenas um magistrado.
Rousseau fala que a verdadeira democracia é impraticável. O interesse privado não deve se sobrepor ao interesse geral. Existem muitas dificuldades nessa forma de governo, que é a mais suscetível às guerras civis.
Existem três tipos de aristocracia: a natural, a eletiva e a hereditária. A hereditária é o pior dos governos. A aristocracia não é favorável à igualdade, mas tem virtudes.
Na monarquia o indivíduo representa o ser coletivo. A vontade particular impera e domina mais do que as outras formas de governo. Há uma distância entre o príncipe e o povo. É preciso um grande monarca para que o Estado seja bem governado. Rousseau não aprova a monarquia hereditária. Ele fala que na monarquia, o despotismo, em vez de deixar o povo feliz, torna o povo miserável. É duro sustentar o luxo da corte.
O governo simples é o melhor, conclui Rousseau, mas na realidade não há governos simples.As pessoas públicas não produzem e consomem. Quem trabalha são os membros, o povo. O Estado só pode existir quando o produto dos trabalhos do homem é maior que suas necessidades.
Rousseau fala que os povos do norte são mais desenvolvidos e vivem com muito. Quanto mais ao sul mais se vive com pouco. Mas os alimentos são mais substanciosos nos países quentes.
O governo se degenera quando se restringe ou quando o estado se dissolve. O Estado se dissolve quando o princípe usurpa o poder soberano.
O corpo deve se reunir em assembléia para deliberar sobre os problemas comuns. Apesar de difícil, isso deve ser feito. Roma era grande e mesmo assim havia reuniões populares. Quando o povo está reunido, os poderes devem cessar.
“O ato que institui o governo não é um contrato, mas uma lei. Os que estão no poder executivo não senhores, mas funcionários do povo.” “Não há lei no Estado que não possa ser revogada, nem mesmo o pacto social.” Mas as leis só devem ser revogadas se isso estiver de acordo com a vontade geral. A vontade geral é indestrutível. O Estado é responsável pela força da vontade geral. Se está decadente, o povo perde a liberdade . Se um filho de escravo nasce escravo, diz Rousseau, não nem ao menos humano.
Rousseau comenta Roma, sua fundação desde a fábula de Romo e Rêmulo, até quando se torna uma cidade. Ele aperfeiçoa seu historicismo, já presentes em obras anteriores. Fala de como se institui uma ditadura.
Na migração de religiões a guerra política torna-se também religiosa. O Deus de um povo não tem direito sobre outros povos. Rousseau analisa as religiões. Algumas levam à sanguinolência. Outras como o cristianismo não tem relação com a política. Rousseau fala do Evangelho que reconhece a todos como irmãos, e não do mau uso que fizeram dele. O cristianismo é totalmente espiritual e a pátria do cristão não é desse mundo. Ele não se preocupa com o Estado, se vai bem, se vai mal, “teme sentir orgulho com a glória de seu país”, diz Rousseau. Se o Estado vai mal, ele presta culto a Deus. Para Rousseau as tropas cristãs não são excelentes. A existência da divindade é um dogma positivo. A intolerância é um dogma negativo.
A menos que a Igreja seja o Estado , não se deve dizer que fora da Igreja não há salvação.
Na homenagem ao aniversário do 250º ano da do nascimento de Rousseau, Levi Strauss, que é um grande admirador de Rousseau, lembra que o gênio de Rousseau atuou na literatura, poesia, história, moral, política, pedagogia, música e botânica. Diz que Rousseau fundou a etnologia e foi um agente de transformação. Pois um etnógrafo tem de pesquisar lugares que lhe são estranhos, até hostis e ver surgir em si preconceitos e sentimentos estranhos. Mas pode compreender melhor essa experiência através de Rousseau. E Rousseau antecipa a fórmula de que o Eu é um outro. No homem uma faculdade com atributos contraditórios tornada consciente, pode fazer o homem mudar, passar por uma transformação, como de afetiva para racional, natural para cultural. “A identificação que consiste na apreensão sensível, precede a consciência das oposições.” A música traz a percepção da dualidade cartesiana, como matéria e espírito, alma e corpo.
O eu natural não sou eu, mas o mais fraco eu dos outros. O homem é oprimido pelas contradições da sociedade e afastado da natureza. Mas pode “buscar a sociedade da natureza para meditar sobre a natureza da sociedade.” Rousseau foi contra o egoísmo humano que o separa da natureza, considerando-se superior, diz Levi Strauss. A superpopulação torna o convívio difícel, é necessário o respeito recíproco.
Contrato Social é divido em quatro pequenos livros. No primeiro livro, Rousseau fala sem preliminares qual é o fundamento legítimo da sociedade política. O segundo livro fala das condições e dos limites do poder soberano. Dai vai para as considerações osbre a forma e o aparato governamental. O último livro apresenta um estudo, um histórico de vários sufrágios, assembléias e outros orgão governamentais.
No primeiro livro , segundo muitos, é a voz do jovem e apaixonado Rousseau que fala. O leitor deve se precaver contra algumas armadilhas interpretativas que se encontram por sob expressões como regras de administração, homens como são. Rousseau investiga porque a sociedade se instiuiu. Foi necessário para garantir o direito de certas coisas , como a propriedade, que veio com o trabalho e cultivo da terra. Uma frase que resume bem esse espírito é: “o homem nasce livre mas se encontra a ferros por toda a parte.” Em alguns trechos Rousseau fala da primeira sociedade a família, onde prevalecia a autoridade paterna. No entanto, depois decrescidos os filhos apenas a convenção e o respeito mantém essa autoridade Tudo se origina de convenções, que visam preservar a liberdade física e a igualdade inicial. Para combater a desigualdade, é necessária a criação de um corpo político, No capítulo IX, Rousseau analisa as relações entre propriedade privada e o poder do soberano.
No livro II, fala da soberania que é inalienável porque representa a vontade geral, e indivisível. Rousseau afasta-se dos autores que o inspiraram , como Montesquieu, porque não há partes contituíntes do Estado, apenas poderem que ajudam o corpo político a governar. A vontade geral nunca erra, salvo em caso de perversão. Em outro capítulo aponta-se os limites sadios do poder soberano, que são os limites das convenções gerais. Cada homem é livre no que escapa à essas convenções, sendo obrigado a obedecê-la para viver em sociedades. Mas essas convenções, como já vimos devem representar a vontade geral, ou o que é útil para todos e ajuda a conservar a vida e a produzir. O Estado vive e age pela lei. A lei é necessária porque não entendemos a lei Divina, a lei superior, que apenas se interessa pelos interesses do homem sem ter ne nhum interesse. Seriam precisos Deuses para dar leis aos homens, mas como isso não tem se resolvido na prática, é necessário um legislador,
No livro III Rousseau demonstra mais exatidão sistemática. Estuda o governo. É favorável para tirar o melhor desse livro, buscar ver além das fórmulas exatas com que Rousseau demonstra o governo, e de que tanto se orgulhava. O governo não passa de um intermediário entre o governo e os súditos. Mas mesmo assim vemos o despotismo. Sempre o governo tenta tomar , por força, o lugar do soberano. O soberano é a pessoa pública. Só as assembléias periódicas podem garantir que não se usurpe o poder.
No último livro, o autor fala que a vontade geral é indestrutível. Aborda os problemas do sufrágio, onde aborda , em uma monografia a parte, os comicíos romanos. Fala do tribunato e da ditadura, os remédios excepicionais quando o Estado está em crise. Esse livro exige estudo e comentário à parte.
Podemos notar em Rousseau algumas incongruências entre vida e obra. Ele se aprimora na arte de bem dizer ao mesmo tempo que critica a civilização. Tem preocupação sistemática nas obras políticas. Nos livros Considerações sobre o governo da Polônia, projeto de constituição para a Córsega e Cartas da montanha, Rousseau aborda aspectos práticos da vida política. Isso vao contra a visão de que seria um mero especulador utópico.
No primeiro discurso, Rousseau lamenta a primazia conferida à civilização aos bem agradáveis, em oposição aos bem úteis e denuncia a vaidade dos conhecimentos cietíficos e artísticos, que servem de ornamento para o espírito, e não aprimoram a postura de cidadão.
Rousseau busca tem fundamentação lógica na sua história, buscando os fundamentos do pacto político. Em Cartas da montanha, Rousseau fala que a pior das soberanias e a aristocráticas. Na Polônia da época de Rousseau, está pouco presente esse princío de ser o povo o que mais tem direito ao governo.O Estado está estagnado e desunido, mas apesar disso conserva o vigor. A república deteriora em oligarquia. A obra de Rousseau sobre a Polônia em alguns pontos é contrária a obra sobre o pacto social. No contrato social temos a influência do individualismo de Locke e dos historicismo de Montesquieu, Rousseau lamentava o fato de Montesquieu, um epírito tão brilhante, se dedicar só a descrição histórica, e não ter muita abstração imaginativa…
Rousseau diz que as ciências e as artes servem para tornar o homem sociável e para fazê-los amar a escravidão. Mesmo com os esforços para estudar os homens, nos distanciamos de conhecê-lo. Foi enorme sua influência, como pensador do Iluminismo, na Revolução Francesa e no romantismo. Ainda hoje suas obras tem validade e são discutidas.
Biografia e Pensamentos: Quem Foi Rousseau
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) nasceu em Genebra, no dia vinte e oito de junho. Ele teve grandes influências de Paris e da França, mas se orgulhava de sua origem genebrina e de ser um cidadão dessa cidade. Os antepassados de Rousseau eram de origem francesa. Ele tinha respeito pela França. A família de Jean-Jacques era de relojoeiros. Possuíam pequena fortuna e eram pequenos burgueses. O pai de Rousseau, Isaac, era despreocupado e instável, mesmo um pouco agressivo. Foi para Constantinopla, mas sua mulher, Suzanne, pediu para que voltasse. Jean foi concebido nessa época. Sua mãe morreu uma semana após o parto. Jean tinha um irmão desaparecido que não conheceu. Chamava-se François.
Suzanne, era de uma família mais importante que Isaac. Rousseau fala dela com emoção. Ela desenhava, cantava e lia. Foi de sua coleção de romances que Jean tirou a primeira parte de sua educação. Ele e o pai ficavam horas lendo depois da ceia. Depois de esgotado o acervo, forma para a biblioteca do avô, onde encontraram livros de leitura complexa. Rousseau gostou da literatura romana.
Isaac Rousseau teve um desentendimento com um capitão francês. Brigando com ele, foi preso, mas preferiu abandonar Genebra, em 1722. Isso tornou Rousseau quase órfão. Estava sendo criado por uma tia e uma empregada, além do pai. Ficou sob a tutela de um tio por parte da mãe, Bernard, que era casado com uma irmã de Isaac. Isaac tinha muitos irmãos.
Jean morou em Bossey por dois anos. Gostava da vida campestre e dos brinquedos. Ficou na casa de um pastor. Às vezes era castigado pela filha do pastor, Srta. Lambecier e sentia prazer nisso. Ela percebeu e começou a lhe tratar como menino grande. Mas em certa ocasião, Rousseau foi acusado de quebrar um pente e recebeu duro corretivo de outro. Bossey perdeu o encanto e Bernard o tirou daquela casa. Rousseau diz nas Confissões, autobiografia escrita no fim da vida, que passou dois ou três anos na casa do tio sem ocupação precisa. Relata os primeiros amores de forma fantasiosa. Com doze anos foi para Genebra. Empregaram-no como menino de recados. O tabelião dispensou-o do trabalho por inépcia. Depois foi aprendiz de gravador. Por brincadeira falsificava medalhas e presenteava os amigos. Foi descoberto e punido Tornou-se temeroso, dissimulado e ladrão de pequenas coisas,como maçãs. Durante um ano, leu todos os livros de uma loja que os alugava.
Rousseau, aos dezesseis anos , ficava com os amigos nos arredores da cidade, que tinha portões. Perdeu o toque de recolher e encontrou os portões fechados por duas vezes, sendo punido por seu mestre. Na terceira, resolveu não voltar mais. Adorou os primeiros dias de liberdade. Encontrou muitas coisas novas, ajuda e amantes.
Foi para uma cidade perto de Genebra, onde se dirige ao cura de Confignon. Jantaram e conversaram, discordando. Rousseau cedeu. O cura encaminhou-o à senhora de Warens, em Annency. Se surpreendeu com a beleza dessa mulher, que tinha vinte e oito anos. Ela era separada e recebia pensão do rei. Ajudava os viajantes e desgraçados. Rousseau foi para Turim, mas voltaria a encontrar Louise Warens.
Em Turim entrou para o asilo do espírito Santo, para tornar-se católico. Adquiriu repugnância pelo catolicismo. Saiu de lá e fez bico como gravador. Depois trabalhou escrevendo cartas para a condessa de Vercells, que estava doente. Passou três meses nessa casa, até a condessa falecer. Rousseau afirma que às vezes ele era um herói, às vezes um patife. Foi trabalhar na casa de um sobrinho da condessa, conde de La Rocque. Tomou lições de latim com um padre. Sob a influência de um amigo, aprontou várias na casa do conde e foi despedido. Partiu em viagem errante com Bâcle,o amigo. Rousseau queria reencontrar Louise, em Annency. Ele a chamava de mamãe. Ficou na casa de Louise, aos dezessete anos. Depois, tornou-se seminarista. O instrutor de Emílio foi inspirado nos vigários do seminário. Rousseau aprende música. Adora música, era uma de suas grandes paixões.
Viaja e passa por Genebra. Em Lyon, revê o pai. Em Lausanne tentou empregar-se como músico, com nome falso. Em Soleure, conheceu o embaixador da França. Viaja novamente em busca da Sra. de Warens. Volta a Lyon. Trabalha copiando música. Encontra a Sra. de Warens em Chambéry. Começou a trabalhar para o rei como secretário. Descobriu que Louise de Warens era amante de Claude Anet, camponês que trabalhava no jardim de Louise. Ela sempre gostou de botânica, e ficava envolvida com plantas e drogas. Passaram a viver como trio. Rousseau se dedica a aprender música.
A Sra. de Warens tivera como primeiro amante o sr. Tavel, professor de filosofia. Ele a tornou uma mulher liberal e sem preconceitos. Quando Anet morreu, Rousseau teve de ocupar seu lugar na casa, sem possuir as mesmas qualificações.
Rousseau lê algumas obras de Voltaire, com quem ia polemizar mais tarde e gosta muito. Em 1737 assistiu a guerra civil de Genebra, guardando depois dolorosas recordações. Continua a estudar Rameau em música. Conheceu Rameau mais tarde, como compositor. Aprende xadrez. Então adoeceu. Ele e Sra. de Warens retiram-se no campo para a convalescença- Sem suportar tomar leite, Rousseau estraga o estômago de tanto beber água. É nessa época que se considera um homem morto, e diz que começa a viver.
Começou a refletir sobre religião. Teve muita influência da Sra. de Warens nesse campo. Rousseau, com vinte e cinco anos dividiu a herança da mãe que passou a ter direito com Louise. Comprou livros e se dedicou ao estudo. Lê Leibniz, Locke, Malenbranche na filosofia. Estuda geometria, começando por Euclides. Formou um armazém de idéias dos autores, na esquematização do conhecimento adquirido. à tarde , estudava história e geografia.
Mas sua saúde piorava. Viajou para tratar do que acreditava ser uma doença no coração. No caminho viu a peça Alzire, de Voltaire, que o deixou mais doente. Teve um caso com a Sra. Larnage, que era casada. Esqueceu Louise. Quando voltou para vê-la, ela estava com outro jovem. Depois de um período, partiu para Charmettes, pois sua relação com Louise havia se tornado fria e ela se tornou apenas a “mamãe” mesmo.
Virou preceptor dos dois filhos do Sr. de Mably, em Lion, em 1740.Foi mal sucedido.Os alunos não aprendiam e ele não sabia ensinar. Pediu demissão. Elaborou um novo método de notação musical, que levou a Paris. Tinha algumas cartas de apresentação. Conhece Diderot. Consegue chegar na Academia e apresenta seu método. A academia apresenta objeções, dizendo não ser novo nem útil. Conhece Fontenelle. Diderot também era músico, além de filósofo e ficaram amigos. Diderot tinha aproximadamente a mesma idade de Rousseau. Rousseau se apaixona pela Sra. Dupon, mas não se declara. Só o faz por carta, encontrando frieza. Compõe uma ópera, mas não leva adiante o projeto. Viaja pela Europa e passa por Veneza, onde tem a idéia de escrever uma obra política. Visita o pai. Ocupa-se como professor de Thérese. Termina a ópera obtendo um sucesso moderado. Volta a Paris.
Diderot e d’Alembert haviam começado o dicionário Enciclopédico, que era inspirado na Enciclopédia inglesa, e procuravam colaboradores. Rousseau redigiu toda a parte musical sem receber nada. Diderot enfrenta complicações por causa da sua Carta sobre os cegos e é preso..
Em 1749, Rousseau fica sabendo de um mote proposto pela Academia de Dyon: Se o progresso das ciências e das artes contribuiu para corromper ou aprimorar os costumes. Fica muito emocionado, tomado por idéias. Um universo se abre diante dele. Redige algumas linhas e mostra a Diderot, que o encoraja a concorrer ao prêmio.
Redige a obra e nas Confissões , fala que ela, cheia de calor e força, carece de lógica e ordem. Seu discurso ganhou o prêmio. Muito entusiasmado, se resolve a ser escritor. A obra Discurso sobre o desenvolvimento das ciências e das artes fala que as ciências e as artes foram prejudiciais ao espírito humano durante seu progresso, por serem corrompedoras. Os costumes se degeneraram com o avanço das ciências. O egocentrismo e o amor próprio substituíram a virtude. Contrapõe à sociedade ocidental, que julga estar muito afastada da pureza, o estado selvagem. Ele desenvolverá esse tema em seu próximo discurso.
Rousseau não criou os cinco filhos que teve com Thérese, com a qual acabou por casar. Se instalou em Paris e com ela. Mas foi acometido de nova crise de saúde, dessa vez um problema na bexiga. Em 1751 redige a Parábola e em 1753 Alegoria sobre a revelação. Rousseau se encontrava com a intelectualidade do Iluminismo francês na casa do Barão d’Holbach, um ateu muito rico, autor de o Sistema da natureza. Rousseau não simpatizava com ele. Era amigo também de Grimm e Condillac, que estava enfrentando problemas com o seu novo livro porque a metafísica estava fora de moda na época. Rousseau gostava de Duclos, que conhecera na casa da Sra. d’Epinay.
Por não querer ser apresentado ao rei, Rousseau fugiu. Diderot o censurou. Rousseau introduziu alguma música italiana na França. Escreve a Carta sobre a música francesa ,que causa escândalo. Para piorar, é acusado de plágio em sua ópera, O adivinho da aldeia, que lhe rendeu dinheiro por muitos anos. Em 1753 a Academia de Dijon propõe outro assunto: A origem da desigualdade entre os homens. Rousseau vai para o campo procurar os segredos da vida natural. Diderot gostou dessa obra, mas eles acabaram por se desentender. Rousseau não ganhou o prêmio.
Em Lion, Rousseau reencontra a Sra. de Warens. Estava num estado lamentável. Vai então para Genebra. A dedicatória do Discurso sobre as origens e os fundamentos da desigualdade entre os homens, feita aos cidadãos de Genebra, foi terminada em Chambéry. Simpatiza por uma casinha e passa a morar nela. A casa tinha o nome de Érmitage. Voltaire se instalara perto de Genebra. Tinha idéias para escrever as Instituições políticas, obra que não chegou a terminar. Pensava sobre qual é o melhor governo possível, que se mantém fiel a lei. Fica então isolado, rompe com o otimismo do século das luzes. Visitava de vez em quando madame d’Epinay, pela qual não sentia atração.
Voltaire escreveu um poema sobre o desastre de Lisboa, contra o otimismo. Rousseau escreveu-lhe uma carta desculpando a providência. Voltaire não respondeu na hora. Sua resposta à questão do otimismo só veio em Cândido.
Rousseau começa uma obra lírica, a Nova Heloísa. Conta a história de duas mulheres com características diferentes. Uma morena, outra loira. Uma meiga, outra viva. Vai vivendo em Érmitage e rompe com Grimm. Os amigos o abandonam.
Escreve Carta a d’Alembert sobre os espetáculos. Rompe com Diderot. Um marechal oferece-lhe moradia e ele aceita, começando Emílio e terminando Contrato Social. Desde Érmitage começara a trabalhar nessa obra.(Emílio) Pensou durante vinte anos e escreveu três. Em 1761 surgiu A paz perpétua e logo depois Ensaio sobre a origem das línguas. Emílio fala de um garoto que experimenta a simplicidade da vida do campo durante sua formação. Conhece a vida dura de trabalhos manuais. Rousseau julgava ser necessário uma infância solitária para que o menino conheça os deveres de ser cidadão apenas na hora certa e não se desvirtuasse na sociedade. Emílio só conhece o mestre, que busca incentivas as aptidões naturais do menino, e lhe dá uma educação sem frugalidades. Emílio só será encaminhado à sociedade na maturidade, quando conhecerá uma cidade grande.
O Contrato social foi publicado em 1762. Rousseau enfrenta opiniões contrárias e suspeita de complôs, de estar sendo perseguido. Antes que o prendam, foge. O livro causou problemas porque apontava o povo como origem legítima do governo. Quando ia saindo de sua casa, passa por quatro homens vestidos de preto, os oficiais de justiça, que iam prendê-lo. Vai para Yverdon. Pretende ir para Genebra. O parlamento de Paris condena Emílio a ser queimado e rasgado. O mesmo acontece com O contrato social. E também é decretada a prisão de Rousseau se ele aparecer em Genebra. Rousseau instala-se em Motrers. Frederico, rei da Prússia, deu-lhe dinheiro e madeira para o inverno. Rousseau abdica do título de cidadão de Genebra. Evita cerimônias públicas, pois o povo se inquieta contra ele e as autoridades fingem nada ver, não oferecendo proteção. No Contrato social, havia falado da Córsega, dizendo que esta ainda surpreenderá a Europa. Passa da teoria à prática escrevendo um Projeto para a legislação da Córsega, a pedido dos corsos. Em 1765, volta a Paris. Pretende permanecer incógnito, mas fica assim por pouco tempo. Quando tinha ido para a Suíça, recebera uma carta lisonjeira de Hume. Em Estrasbugo, recebeu outra, que respondeu. Aceita o convite de Hume para ir para a Inglaterra. No início mora numa casa de um amigo de Hume. Depois, muda-se para a casa de um vendeiro. Permanece por pouco tempo e vai para a casa de um burguês. Hume foi durante um período, protetor de Rousseau, que havia passado por tantas injúrias.
Foi então que se sucedeu o incidente que os separou e fez Rousseau ficar paranóico de uma vez. Uma carta, pretensamente de Frederico, circulara em Paris em 1765. Quando a carta foi publicada num jornal, Rousseau a leu e ficou afetado profundamente. A carta foi escrita por Horace Nalpole, que assinou Frederico. Falava da perseguição de Rousseau e oferecia abrigo da Prússia. Tratava Rousseau como se fosse louco. Rousseau soube que Horace era amigo de Hume e ficou furioso. Renuncia a pensão secreta que fora oferecida, pois não queria aceitar favores de Hume.
Hume fica indignado e alega inocência. Rousseau escreve uma carta com mais de trinta páginas, afetado por imaginação e complexo de perseguição. Encontrando Hume pessoalmente, Rousseau se arrepende. Mas a relação estava comprometida. Por cartas, despedem-se para sempre. Hume escreve a Exposição sucinta da contenda surgida entre o sr. Hume e o sr. Rousseau, em 1766. A partir de 1767, Rousseau é tomado por acesso de loucura e fica obcecado pela suspeita da maquinação de que fora vítima. Viaja muito pela Europa. Começa a escrever Confissões. Queria dar sua visão a respeito dos acontecimentos que marcaram sua vida atribulada. Volta a profissão de copista. No final de 1770 , termina Confissões. A partir de 1772 redige Diálogos. Vive uma vida reservada. Vai para Ermonville,em 1778 onde morre pouco depois.
Principais obras de Jean-Jacques Rousseau
Rousseau foi um escritor fecundo e trabalhou febrilmente duranto longo período de vida. Abaixo uma lista de seus escritos mais referenciados:
* Dissertação sobre a música moderna, 1736
* Discurso sobre as ciências e as artes (Discours sur les sciences et les arts), 1750
* Narciso ou o Amante de si mesmo: 1752
* Discurso sobre a origem e os fundamentos da Desigualdade entre os homens (Discours sur l’origine et les fondements de l’inégalité parmi les hommes), 1754
* Discurso sobre economia política, 1755
* Carta a D’Alembert sobre os espetáculos, 1758 (Lettre à d’Alembert sur les spectacles)
* Júlia, ou a Nova Heloísa (Julie, ou la nouvelle Héloïse), 1761
* Emílio, ou Da Educação (Émile ou de l’éducation), 1762
* A Profissão de Fé do Vigário Saboiano, 1762 (in Émile)
* Do Contrato Social (Du contrat social), 1762
* Cartas da Montanha, 1764 (Lettres de la montagne)
* As Confissões (Les Confessions), 1770, publicadas em 1782
* Projeto de Constituição da Córsega, 1772
* Considerações sobre o governo da Polônia, 1772
* Ensaio sobre a origem das línguas, publicado em 1781 (Essai sur l’origine des langues)
* Os Devaneios do Caminhantes solitário, 1782 (Rêveries du promeneur solitaire)
* Diálogos: Rousseau Juiz de Jean-Jacques, publicado em 1782
Resumo do Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens.
Introdução- Essa obra filosófica é continuação do Discurso sobre as ciências e as artes, onde exerce a crítica moral e política. Rousseau fala de uma reforma social e política. Tenta encontrar o que é natural no homem e não foi corrompido pela sociedade. Ele descreve, em especulação abstrata e racional, como era o homem no estado de natureza. É nesse livro que se encontra bem demonstrado o princípio rousseano que ficou famoso, de que o homem é bom e a sociedade o corrompe. O homem mal governado é rico apenas em vícios.
Esse livro de Rousseau marca uma ruptura e um progresso em relação ao discurso das artes. Tem maior perspectiva histórica e antropológica. Nesse livro estão caracterizados os aspectos que vieram a fazer dele um precursor do romantismo. Rousseau também fala de ecologia, quando ninguém falava, e defende os povos selvagens, que naquela época (1753) costumavam ser explorados e mal compreendidos. Também atenta para os perigos da superpopulação. Era um leitor ávido de relatos de viagens, e suas descrições dos nativos, indígenas e africanos. O homem da natureza que descreve encontrou em si mesmo, quando buscava uma meditação voltada para dentro nos campos de Sait German. Ele admite que é muito difícil, senão impossível, o homem voltar ao estado de natureza. Tal volta teria de trazer consigo os aspectos positivos da civilização. Em certo trecho, Rousseau abençoa o momento em que o homem começou a se civilizar, sem contudo deixar de exercer a análise crítica.
Na época da publicação, já é um escritor célebre. Partindo do tema da Academia de Dijon, Rousseau tenta ver a natureza fora da perspectiva social, identificando o que o homem corrompeu do estado natural através da civilização e quais são os males que vem com ela. A origem desses males vem do homem, e ele sempre os atribuía à natureza. Rousseau não ganhou o prêmio da Academia. Mas o livro destina-se a todos os humanos. Rey, livreiro e amigo de Rousseau ajudou a publicar o livro, no início de 1755.
Desde 1743, Rousseau estudava os clássicos de política. A moral e a política estão juntas em Platão, Aristóteles, Spinoza, Montesquieu, Grotius, Pufendorf, Hobbes e Locke. Rousseau tem influência, mas não concordância, desses quatro últimos.
Hobbes falou do estado de natureza para justificar o absolutismo e a origem da sociedade. Para Hobbes, o homem no estado de natureza é competitivo e egocêntrico, senso o homem o lobo do próprio homem. A sociedade regida pela política seria necessária para controlar o instinto violento do homem.
Pufendorf são iguais no estado de natureza e a autoridade não é legitimada, ningúem manda em ninguém. A autoridade política deriva de um contrato. Para Locke, a sociedade garante os direitos naturais como o direito à propriedade. Pufendorf opõe-se a Hobbes, pois diz que no estado de natureza existe a sociabilidade e a razão.
Rousseau recusa as teorias dos dois. Para ele a razão só veio com a sociedade e com a linguagem. O estado de natureza não tem existência histórica. A utilidade dessa hipótese serve para esclarecer a natureza das coisa, serve como referência. Permite julgar moralmente a degradação do homem social.
Esse livro deve ser lido antes de o Do Contrato Social. Já esboça nele seu projeto de justificar o governo, da passagem do estado de natureza em que o homem é solitário, para a sociedade civil, onde o povo e o soberano devem ser a mesma pessoa. Vamos então ver, em algumas passagens com as palavras de Rousseau, um resumo desse importante discurso.
Resumo- O livro começa com uma citação de A política, de Aristóteles, que diz ser preciso estudar o que é natural nos seres que vivem conforme a natureza. Ele se dirige aos cidadãos de Genebra, e não apenas aos que detém o poder. Genebra era governada por um grupo de vinte e cinco homens na época.
Na natureza , existe a igualdade. A desigualdade provém dos homens. Rousseau fala que se pudesse escolher onde nascer, escolheria um lugar onde o amor entre os cidadãos fosse maior que o amor à pátria. Rousseau tem Esparta como exemplo. Lá se vivia uma vida dura, em exposição aos elementos naturais e com vigor físico. A relação entre as pessoas é direta é igual.
Rousseau critica o absolutismo francês, e prefere a democracia. A lei deve ser igual para todos, e ninguém deve se por acima dela. Esses tópicos estarão presentes no Do contrato social. Os costumes, através de gerações levam à obediência passiva. Hume, em seus Discursos morais, políticos e literários também fala coisa semelhante. A liberdade é boa e nutre os fortes, mas abate os fracos. Na pátria que Rousseau queria ter nascido, os homens, acostumados à independência, são dignos dela. Nela, o domínio da fronteira não seria motivo de guerra. O direito de legislar seria comum a todos os cidadãos. No Do contrato social, Rousseau fala da figura do legislador, que deve representar a vontade geral.
Rousseau diz que teria fugido de uma república onde o povo fosse por si só e dispensasse os magistrados, vindo diretamente do estado de natureza. Isso foi o motivo da perdição da república de Atenas. No discurso que pronunciaria aos seus concidadãos, Rousseau diria que a felicidade se torna duradoura se bem usufruída. O amargor e a desconfiança levam à desgraça e à ruptura do Estado. Deve-se meditar sobre isso, procurando o coração. Deve-se preferir a moderação, simplicidade e respeito às leis. O discurso é uma crítica aos cidadãos que eram contra ao edito que dava poderes para um pequeno grupo, em Genebra.
Rousseau agradece seu pai e lamenta sua juventude louca. Fala dos homens simples que fazem a sociedade. Esses homens amam a pátria e tem religião.
As mulheres garantem a paz. Seu destino é governar o homem. São guardiãs dos costumes. Rousseau tira o exemplo das mulheres virtuosas da antigüidade.
O conhecimento humano mais avançado é o de si mesmo. Rousseau prefere a máxima “conhece-te a si mesmo” aos imensos tratados dos moralistas. Para conhecer a origem da desigualdade entre os homens, é preciso conhecer o próprio homem.
A alma humana é moldada nas vivências. Ela está irreconhecível, depois de ter sido influenciado de todas as formas por conhecimentos , erros e pelo impacto das paixões. Deus criou a alma com majestosa simplicidade. O desejo de auto conhecimento vem do homem do homem, o civilizado, que acaba por ignorar-se. Rousseau critica a filosofia, que desde a antigüidade vem se contradizendo e pouco sobre as experiências necessárias para ver o homem natural e sua aplicação na prática. Os filósofos chegaram a princípios metafísicos difíceis de compreender.
No homem natural, o que opera não é a razão. Ele é solitário e sua alma tem realizações simples.
Quando a sua preservação está ameaçada, o homem dá preferência a si. Ele deve ter o direito de não sem maltratado sem motivo. A vontade divina fez o homem bom. A arte humana o corrompeu. Rousseau identifica dois tipos de desigualdade entre os homens. Uma natural, como a da idade, e outra social, como a de dinheiro. A ultima pode se chamada de moral. Rousseau fala do momento que o direito sucedeu a violência e a natureza se submeteu a lei humana. Foi quando o mais forte começou a se servir do mais fraco.
Pufendort e Locke não conseguiram falar do estado de natureza, pois identificaram a lei natural como racional e puseram no estado de natureza idéias sociais, como também fez Hobbes. Rousseau , par estudar isso, afasta os fatos. Faz um apelo para ser ouvido. Fala de tempos distantes, para reconhecer o tempo em que não havia individualidade. Busca a natureza quase esquecida, ignorada, no homem moderno.
Usando de intuição, Rousseau imagina o homem nos primórdios. O homem natural tinha necessidades simples e era o mais organizado dos animais. A fertilidade da terra não mutilada oferece provisões. Os animais elevam seus instintos. O homem copia os animais. O ser humano e seus filhos são robustos. A natureza seleciona os mais fortes. Ao dizer isso Rousseau se antecipa a Darwin. O contato com a natureza e com os animas faz os homens corajosos. Tudo corre de maneira uniforme.
Rousseau ataca também a medicina. Os males como a fadiga e o esgotamento espiritual existem porque não vivemos a vida solitária, como a natureza manda. Rousseau diz ser a reflexão corrompedora do homem. A reflexão é contrária à natureza. Nessa frase ele manifesta seu anti-racionalismo. A maneira de viver civilizada, baseada na sociabilidade e escravidão, fez o homem perder o vigor, tornar-se fraco e medroso. Isso também acontece com animais domésticos.
Rousseau cita relatos de viagens feitos por outros. Os povos selvagens tem os instintos muito aguçados. Com influência do mecanicismo cartesiano, Rousseau fala do aspecto metafísico e moral do homem natural. Para ele, os animais também tem idéias e entendimento.
O homem selvagem no início é um animal. Deseja e teme. As coisas boas que conhece são a comida, o sexo e o descanso. Ele teme a dor e a fome. O temor da morte veio quando o homem se distanciou do animal.
O fogo, a agricultura e a comunicação foram importantes nesse estado evolutivo entre a selvageria e a civilização. Rousseau se inspira em Condillac, Maupertius e Diderot para falar sobre a origem das línguas. Para Rousseau, existe um paradoxo nessa origem. A linguagem só pode ter surgido com a sociedade e o pensamento, que só podem ser concebidos pela linguagem.
A piedade é o princípio ignorado por Hobbes em sua definição de estado de natureza. A natureza dotou todos de piedade. É um instinto da espécie, que modera o amor próprio e faz com que nos identifiquemos com o semelhante. Em oposição à piedade existem as paixões violentas. Quanto mais elas se propagam, mais necessárias são as leis. O estado de natureza não é um fato histórico, mas um fato filosófico.
A sociedade civil começou a propriedade. O progresso e a indústria evoluíram com o tempo, pondo fim aos últimos estágios do estado de natureza. O homem aprendeu a combater os animais, contornar obstáculos naturais, ceder ao mais forte. A conseqüência disso no espírito foram as relações, os valores. Rousseau prossegue em seu historicismo. O homem começa a construir cabanas, usar as pedras, dividir-se em famílias.
A fêmea que antes vivia em igual condição com o macho, passou a ser mais sedentária. Ambos perderam a ferocidade. O hábito fez surgirem mais necessidades. O homem é infeliz em perdê-las, sem ser feliz em tê-las. Assim vai surgindo a desigualdade, grupos vão tomando conta de áreas. O progresso é positivo e negativo. O ciúme nasce do amar. A vaidade nasce da propriedade. Concorrências surgiram , viam quem desempenhava melhor certas atividades.
Os povos selvagens da época de Rousseau (indígenas e africanos) não estavam mais em estado de natureza, segundo ele, pois são sanguinários. Rousseau continua sua análise do progresso. A moralidade e opiniões tornaram-se mais severas. Quando um homem passou a necessitar do outro, a igualdade desapareceu. O ferro e o fogo civilizaram os homens, arruinando-os. Quando se precisou dos homens para forjar o ferro, precisou-se de outros para alimentá-los. Assim surgiu o trabalho e desenvolveu-se a propriedade. A desigualdade está ligada à propriedade. Mesmo trabalhando tanto quanto o outro, um tem de sofrer.
Com a desigualdade vem um estado de guerra, de todos contra todos. Para se desvencilhar disso, os vizinhos de uma área precisaram entrar num acordo, estabelecer um contrato. Para Rousseau, isso é negativo, pois no resultado final favorece os ricos. As sociedades se multiplicaram rapidamente.O acordo mútuo não impediu os massacres. O principal direito do homem é a liberdade. Os pobres só tem ela a perder, mas pode-se dizer que são escravos. Os povos instituíram chefes para assegurar a liberdade, para escapar da escravidão, e não o contrário. Os princípes devem obedecer às leis, serem submetidos a elas. O direito à propriedade é apenas convenção humana, diz Rousseau, contrariando o Locke disse.
Rousseau inicia então a descrição da evolução política. Diz que o sangue humano foi sacrificado para a pretensa liberdade do Estado. No progresso da desigualdade, o poder legítimo foi substituído pelo poder arbitrário. Assim, em diferentes épocas tivemos ricos e pobres, poderosos e fracos, senhores e escravos. Como conseqüência do progresso e da desigualdade surgem preconceitos contrários à razão e à virtude. Tendo o súdito apenas a vontade do senhor, e o senhor apenas suas paixões, some a justiça, cria-se um novo estado de natureza, fruto da corrupção.
Nos comentários, Rousseau cita exemplo de humanos que andam de quatro. Mas ele fala das adequações anatômicas que o homem precisou ter para ser bípede. Depois ele comenta com informações, sua teoria da fertilidade natural da Terra.
Rousseau defende o regime vegetariano para o homem, observando que seus dentes e intestinos são semelhantes aos dos animais frugívoros. A presa é motivo de combate. Adotando o regime vegetariano, o estado de natureza ficaria mais fácil de alcançar e a paz reinaria.
Rousseau coloca mais exemplos de selvagens, para demonstrar que os corpos e sentidos destes são mais adequados e desenvolvidos que o do homem civilizado. Ele tem uma preocupação ecológica. Foi a violência da atitude do homem contra a natureza que o tornou infeliz, mas isso não aconteceu sem esforço. Naturalmente, o homem é bom , mas ficou mal. O luxo tem papel importante na decadência do Estado e desigualdade social.
Rousseau alerta para não se tirar a conclusão de que é necessário um retorno ao estado de natureza. A simplicidade original está perdida. Deve só não ficar muito afastado da natureza.
Na nota seguinte, ele fala de algumas semelhanças entre o homem e o orogotango. Fala também de um povo selvagem da África, que é muito forte. Sugere que se façam mais viagens ao redor do mundo, e se escreva uma história natural original. Levi Strauss viu nessa nota as origens e os fundamentos etnologia. Na próxima nota, Rousseau cita Locke, e questiona se a manutenção da família é ou não necessária. No estado de natureza do homem, ela não é estritamente necessária.
O amor próprio não existe no estado de natureza. É um sentimento que leva a pessoa a se achar melhor que a outra. O amor de si mesmo, por sua vez, está ligado ao instinto de auto preservação e leva a humanidade à virtude. É importante entender a diferença entre esses dois sentimentos.
Os selvagens não são tão infelizes quanto parecem. Eles preferem sua vida a uma civilizada, conforme Rousseau demonstra com exemplos.
Kant classifica como inevitável a contradição entre civilização e natureza do gênero humano enquanto espécie física, onde os indivíduos devem cumprir seu destino.
Fichte faz louvor a memória de Rousseau, dizendo que inflamou almas, alcançou um efeito maior que o esperado e que Rousseau é o homem da sensibilidade passiva. , que debilita a sensibilidade e não pontifica a razão.
Engels comenta o livro, ressaltando o fato de ser a propriedade mãe da desigualdade. Starobinski fala que a conclusão do discurso é notável, por introduzir a noção de igualdade civil. Ressalta as impossibilidades que Rousseau aponta. Não se pode retroceder ao estado de natureza e o homem civilizado está corrompido.
Depois de concluir essa obra Rousseau garantiu sua fama, tornando célebre. Isso se deve mais ao caráter polêmico da obra e do próprio mote escolhido pela Academia de Dijon, que Roosseau elogia, do que a opiniões favoráveis. As opiniões favoráveis existiram, na época, mas o que prevalece é a aversão ao seu caráter revolucionário. Rousseau, que desde que ficou amigo de um camponês indignou-se com a exploração, foi analisado por Voltaire, que escreveu em pé de página: “Eis um miserável quer fazer dos ricos pobres e dos pobres ricos”. Em uma carta irônica, escreveu que o livro lhe dava vontade andar de quatro patas, mas que já tinha abandonado esse hábito há sessenta anos. Além disso estava ao lado do maio médico da Europa (Rousseau condenava a medicina). E sabendo que Rousseau não havia retornado a Genebra, sua pátria, para não cruzar com ele, convida-o para viver perto dele e beber o leite de suas vacas. Rousseau respondeu chamando-o de mestre, e dizendo que não havia perigo de se voltar a andar de quatro patas. E que ele, Voltaire sem dúvida ficava melhor de pé.
Com esse livro, Rousseau abriu caminho para sua obra mais polêmica e discutida, Do contrato social. Fiz um resumo do livro e depois acrescentei algumas notas analíticas. Vejamos, em linhas gerais, e nas palavras de Rousseau o que diz essa obra.
Resumo de Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau.
Introdução- Rousseau é influenciado desde que era embaixador em Veneza, por Grotius e Pufendorf, dentre outros, conforme já vimos. Grotius falava, sobre o contrato social, que ele legitima o poder e funda a sociedade civil.
Pufendorf falava de dois tipos de pactos: o de associação, no qual a sociedade se mantém depois de cair um governo e o de submissão, no qual o povo e governado por um soberano. Outra influência de Rousseau é Althibius.
Rousseau escreveu nas Confissões que a publicação de Emílio foi complicada, e a do Contrato foi bem mais fácil. Emílio era uma obra muito querida por Rousseau era a obra que concluía as suas idéias sobre educação.
Nova Heloísa havia feito muito sucesso. Rousseau era um autor consagrado. Instituições Políticas era a obra que Rousseau mais se entusiasmava, e queria trabalhar nela a vida inteira. Foi dessa obra reduzida, que nasceu o Contrato social. Rousseau atirou as provas originais do seu grande livro no fogo, depois de redigir o Contrato. Ele achava que as Instituições iam precisar serem muito bem trabalhadas ainda.
O livro pretende mostrar qual é o fundamento da ordem social. Ela não vem do direito natural, nem da força, mas de uma convenção, o pacto social.
O homem perdeu a liberdade original. Rousseau procura explicar o que torna essa mudança legítima. A ordem social é um direito sagrado que não existe na natureza e funda-se em convenções. A mais antiga das sociedades é a família, diz Rousseau. O pai tem cuidado com os filhos e por isso sente amor. No Estado, o governante não ama o povo, mas tem prazer em governar. Alguns filósofos falaram que a desigualdade é natural, alguns nascem para governar, outros para serem governados.
Resumo- Ceder à força não é um dever. A desigualdade surge com a força, que é transformada em direito. Somos obrigados a obedecer as potências legítimas. É da relação das coisas e não das relações pessoais que nasce o estado de guerra. A guerra é uma relação entre os estados e não uma relação entre os homens. Rousseau analisa o direito de conquista, que vem da lei do mais forte.
Rousseau vê num rei e seu povo, o senhor seu escravo, pois o interesse de um só homem será sempre o interesse privado.
Os homens para se conservarem, se agregam e formam um conjunto de forças com único objetivo.
No contrato social, os bens são protegidos e a pessoa, unindo-se às outras obedecem a si mesmo, conservando a liberdade. O pacto social pode ser definido quando “cada um de nós coloca sua pessoa e sua potência sob a direção suprema da vontade geral”.
As pessoas públicas formas a República, são chamada o Estado, quando passivas, e soberanos quando ativas. O soberano não pode violar o contrato, alienar qualquer porção de si mesmo. O corpo político não pode se submeter a outro soberano. Isso seria se auto aniquilar. Com uma sociedade, quando se ofende um, ofende todo o corpo. O soberano não pode ter uma opinião contrária a todos, mas o indivíduo pode.
Na passagem do estado de natureza para o estado civil, o homem muda, O instinto é substituído pela justiça. Qualquer quebra ao compromisso do contrato, implica a uma volta ao estado de natureza. O homem passa a ser moral e racional. A mudança acarreta vantagens e desvantagens. Ganha a liberdade civil e a propriedade. Perde a liberdade natural.
O direito a um terreno se fortalece. Rousseau questiona o direito a uma área do primeiro ocupante. As leis são úteis àqueles que possuem, e prejudicam os que nada tem. O Estado existe para o bem comum, e a vontade geral deve dirigi-lo para esse fim.
Vontade geral é um ato de soberania, atende ao povo, por isso é lei. Esse é o princípio que devia ser obedecido, mas nem sempre é assim. O soberano é feito um ser fantástico. A soberania é indivísvel e inalienável.
Os compromissos do corpo social são mútuos. Trabalhando para os outros, trabalha-se para si mesmo. Os indivíduos tem suas vontades particulares, mas também existe a vontade geral. Cada homem é legislador e sujeito, obedecendo a leis que lhe são favoráveis. O tratado social tem por finalidade conservar os contratantes.
Rousseau defende a pena de morte para quem violar o contrato. Mas só pode matar com que não pode continuar sem perigo. A justiça vem de Deus, mas por não sabermos recebê-la são necessárias as leis da razão que devem servir a todos.
Quando o povo estatui algo para todo o povo, forma-se uma relação. A matéria e a vontade que fazem o estatuto são gerais, e a isso Rousseau chama lei. A república é todo estado regido por leis, Mesmo a monarquia pode ser uma república. O povo submetido às leis deve ser o autor delas. Mas o povo não sabe criar leis, é preciso é um legislador. Rousseau admite que é uma tarefa difícil encontrar um bom legislador. Um legislador deve fazer as leis de acordo com o povo.
A relação entre o tamanho do território e o número de habitantes é o que faz a medida do tamanho de um Estado. Os maiores bens de todos são a igualdade e a liberdade. O livro de Rousseau é considerado a Bíblia da Revolução francesa. Os cidadãos devem ter uma riqueza tal que ninguém seja forçado a se vender.
No livro III do Contrato, Rousseau fala do governo. Reconhece duas causas para uma ação: a moral, a vontade é uma e a outra é física, a potência. O governo é um corpo intermediário entre o súdito e o soberano. É uma administração suprema em que o príncipe exerce o poder executivo.
Os governantes , ou magistrados, não devem ser numerosos, para não se enfraquecer, pois quanto mais atua sobre si mesmo, menos influência tem sobre o todo. Na pessoa do magistrado há três vontades diferentes: a do indivíduo, a vontade comum dos magistrados e a vontade do povo, que é a principal.
Rousseau explica porque o governo deve ser centralizado. No entanto era contra o absolutismo que reinava na época. Então ele analisa as três formas de governo.
Na democracia os cidadãos exercem o magistrado. Na aristocracia, existem mais cidadão comuns que magistrados. Na monarquia, há apenas um magistrado.
Rousseau fala que a verdadeira democracia é impraticável. O interesse privado não deve se sobrepor ao interesse geral. Existem muitas dificuldades nessa forma de governo, que é a mais suscetível às guerras civis.
Existem três tipos de aristocracia: a natural, a eletiva e a hereditária. A hereditária é o pior dos governos. A aristocracia não é favorável à igualdade, mas tem virtudes.
Na monarquia o indivíduo representa o ser coletivo. A vontade particular impera e domina mais do que as outras formas de governo. Há uma distância entre o príncipe e o povo. É preciso um grande monarca para que o Estado seja bem governado. Rousseau não aprova a monarquia hereditária. Ele fala que na monarquia, o despotismo, em vez de deixar o povo feliz, torna o povo miserável. É duro sustentar o luxo da corte.
O governo simples é o melhor, conclui Rousseau, mas na realidade não há governos simples.As pessoas públicas não produzem e consomem. Quem trabalha são os membros, o povo. O Estado só pode existir quando o produto dos trabalhos do homem é maior que suas necessidades.
Rousseau fala que os povos do norte são mais desenvolvidos e vivem com muito. Quanto mais ao sul mais se vive com pouco. Mas os alimentos são mais substanciosos nos países quentes.
O governo se degenera quando se restringe ou quando o estado se dissolve. O Estado se dissolve quando o princípe usurpa o poder soberano.
O corpo deve se reunir em assembléia para deliberar sobre os problemas comuns. Apesar de difícil, isso deve ser feito. Roma era grande e mesmo assim havia reuniões populares. Quando o povo está reunido, os poderes devem cessar.
“O ato que institui o governo não é um contrato, mas uma lei. Os que estão no poder executivo não senhores, mas funcionários do povo.” “Não há lei no Estado que não possa ser revogada, nem mesmo o pacto social.” Mas as leis só devem ser revogadas se isso estiver de acordo com a vontade geral. A vontade geral é indestrutível. O Estado é responsável pela força da vontade geral. Se está decadente, o povo perde a liberdade . Se um filho de escravo nasce escravo, diz Rousseau, não nem ao menos humano.
Rousseau comenta Roma, sua fundação desde a fábula de Romo e Rêmulo, até quando se torna uma cidade. Ele aperfeiçoa seu historicismo, já presentes em obras anteriores. Fala de como se institui uma ditadura.
Na migração de religiões a guerra política torna-se também religiosa. O Deus de um povo não tem direito sobre outros povos. Rousseau analisa as religiões. Algumas levam à sanguinolência. Outras como o cristianismo não tem relação com a política. Rousseau fala do Evangelho que reconhece a todos como irmãos, e não do mau uso que fizeram dele. O cristianismo é totalmente espiritual e a pátria do cristão não é desse mundo. Ele não se preocupa com o Estado, se vai bem, se vai mal, “teme sentir orgulho com a glória de seu país”, diz Rousseau. Se o Estado vai mal, ele presta culto a Deus. Para Rousseau as tropas cristãs não são excelentes. A existência da divindade é um dogma positivo. A intolerância é um dogma negativo.
A menos que a Igreja seja o Estado , não se deve dizer que fora da Igreja não há salvação.
Na homenagem ao aniversário do 250º ano da do nascimento de Rousseau, Levi Strauss, que é um grande admirador de Rousseau, lembra que o gênio de Rousseau atuou na literatura, poesia, história, moral, política, pedagogia, música e botânica. Diz que Rousseau fundou a etnologia e foi um agente de transformação. Pois um etnógrafo tem de pesquisar lugares que lhe são estranhos, até hostis e ver surgir em si preconceitos e sentimentos estranhos. Mas pode compreender melhor essa experiência através de Rousseau. E Rousseau antecipa a fórmula de que o Eu é um outro. No homem uma faculdade com atributos contraditórios tornada consciente, pode fazer o homem mudar, passar por uma transformação, como de afetiva para racional, natural para cultural. “A identificação que consiste na apreensão sensível, precede a consciência das oposições.” A música traz a percepção da dualidade cartesiana, como matéria e espírito, alma e corpo.
O eu natural não sou eu, mas o mais fraco eu dos outros. O homem é oprimido pelas contradições da sociedade e afastado da natureza. Mas pode “buscar a sociedade da natureza para meditar sobre a natureza da sociedade.” Rousseau foi contra o egoísmo humano que o separa da natureza, considerando-se superior, diz Levi Strauss. A superpopulação torna o convívio difícel, é necessário o respeito recíproco.
Contrato Social é divido em quatro pequenos livros. No primeiro livro, Rousseau fala sem preliminares qual é o fundamento legítimo da sociedade política. O segundo livro fala das condições e dos limites do poder soberano. Dai vai para as considerações osbre a forma e o aparato governamental. O último livro apresenta um estudo, um histórico de vários sufrágios, assembléias e outros orgão governamentais.
No primeiro livro , segundo muitos, é a voz do jovem e apaixonado Rousseau que fala. O leitor deve se precaver contra algumas armadilhas interpretativas que se encontram por sob expressões como regras de administração, homens como são. Rousseau investiga porque a sociedade se instiuiu. Foi necessário para garantir o direito de certas coisas , como a propriedade, que veio com o trabalho e cultivo da terra. Uma frase que resume bem esse espírito é: “o homem nasce livre mas se encontra a ferros por toda a parte.” Em alguns trechos Rousseau fala da primeira sociedade a família, onde prevalecia a autoridade paterna. No entanto, depois decrescidos os filhos apenas a convenção e o respeito mantém essa autoridade Tudo se origina de convenções, que visam preservar a liberdade física e a igualdade inicial. Para combater a desigualdade, é necessária a criação de um corpo político, No capítulo IX, Rousseau analisa as relações entre propriedade privada e o poder do soberano.
No livro II, fala da soberania que é inalienável porque representa a vontade geral, e indivisível. Rousseau afasta-se dos autores que o inspiraram , como Montesquieu, porque não há partes contituíntes do Estado, apenas poderem que ajudam o corpo político a governar. A vontade geral nunca erra, salvo em caso de perversão. Em outro capítulo aponta-se os limites sadios do poder soberano, que são os limites das convenções gerais. Cada homem é livre no que escapa à essas convenções, sendo obrigado a obedecê-la para viver em sociedades. Mas essas convenções, como já vimos devem representar a vontade geral, ou o que é útil para todos e ajuda a conservar a vida e a produzir. O Estado vive e age pela lei. A lei é necessária porque não entendemos a lei Divina, a lei superior, que apenas se interessa pelos interesses do homem sem ter ne nhum interesse. Seriam precisos Deuses para dar leis aos homens, mas como isso não tem se resolvido na prática, é necessário um legislador,
No livro III Rousseau demonstra mais exatidão sistemática. Estuda o governo. É favorável para tirar o melhor desse livro, buscar ver além das fórmulas exatas com que Rousseau demonstra o governo, e de que tanto se orgulhava. O governo não passa de um intermediário entre o governo e os súditos. Mas mesmo assim vemos o despotismo. Sempre o governo tenta tomar , por força, o lugar do soberano. O soberano é a pessoa pública. Só as assembléias periódicas podem garantir que não se usurpe o poder.
No último livro, o autor fala que a vontade geral é indestrutível. Aborda os problemas do sufrágio, onde aborda , em uma monografia a parte, os comicíos romanos. Fala do tribunato e da ditadura, os remédios excepicionais quando o Estado está em crise. Esse livro exige estudo e comentário à parte.
Podemos notar em Rousseau algumas incongruências entre vida e obra. Ele se aprimora na arte de bem dizer ao mesmo tempo que critica a civilização. Tem preocupação sistemática nas obras políticas. Nos livros Considerações sobre o governo da Polônia, projeto de constituição para a Córsega e Cartas da montanha, Rousseau aborda aspectos práticos da vida política. Isso vao contra a visão de que seria um mero especulador utópico.
No primeiro discurso, Rousseau lamenta a primazia conferida à civilização aos bem agradáveis, em oposição aos bem úteis e denuncia a vaidade dos conhecimentos cietíficos e artísticos, que servem de ornamento para o espírito, e não aprimoram a postura de cidadão.
Rousseau busca tem fundamentação lógica na sua história, buscando os fundamentos do pacto político. Em Cartas da montanha, Rousseau fala que a pior das soberanias e a aristocráticas. Na Polônia da época de Rousseau, está pouco presente esse princío de ser o povo o que mais tem direito ao governo.O Estado está estagnado e desunido, mas apesar disso conserva o vigor. A república deteriora em oligarquia. A obra de Rousseau sobre a Polônia em alguns pontos é contrária a obra sobre o pacto social. No contrato social temos a influência do individualismo de Locke e dos historicismo de Montesquieu, Rousseau lamentava o fato de Montesquieu, um epírito tão brilhante, se dedicar só a descrição histórica, e não ter muita abstração imaginativa…
Rousseau diz que as ciências e as artes servem para tornar o homem sociável e para fazê-los amar a escravidão. Mesmo com os esforços para estudar os homens, nos distanciamos de conhecê-lo. Foi enorme sua influência, como pensador do Iluminismo, na Revolução Francesa e no romantismo. Ainda hoje suas obras tem validade e são discutidas.
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